quarta-feira, 3 de junho de 2009

DOCE SABOR DA INFÂNCIA




“O doce sabor da infância” é um termo antigo, utilizado de forma poética quando queremos lembrar ou relatar episódios dos tempos das bolas dente de leite ou bonecas de pano. Ao pé da letra, o “doce sabor” pode ter relação com aquele pé-de-moleque da cantina do colégio ou do doce de leite que a vovó fazia. Mas, por certo, muita gente remete esse “doce sabor” às frutas do pequeno pomar no fundo do quintal.
E as frutas nos levavam a verdadeiras peraltices, algumas de alto risco. Nunca fui muito afeito a aventuras, mas, na época de estudante, passava caminhando por uma casa cujo pé de cajá se oferecia um metro ou dois logo acima do muro. Era tentação demais, somente comparada a dos decotes, que também descobri mais ou menos naquela época. Até que um dia não resisti. Bom demais, enormes, doces (os cajás).
Sou sócio de carteirinha do fã-clube das mangas. Lembro-me bem, não sei ao certo o porquê, meu pai só nos deixava chupar mangas bem cedo, logo no início da manhã, praticamente antes do sol e do café. Ele as deixava durante toda a madrugada numa bacia plástica na varanda dos fundos, para que elas amanhecessem com baixa temperatura sem que estivessem geladas. Eu acordava diversas vezes durante a noite, tomado pela ansiedade.
No entanto, hoje, assim como eu, vejo pais e mães em verdadeira agonia, na batalha para inserir as frutas na dieta de suas crianças. É comum demais ver fruteiras cheias e crianças em falta de vitaminas (de A a Z). Algo que chega ser de difícil compreensão. Crianças que alegam não gostar de cajá, mamão, pinha, melão, caju, manga, abacaxi, laranja e jabuticaba, entre outras.
No final da manhã desta quarta-feira (03/06), pude observar (e fotografar) em Guarus, na avenida Salo Brand (bem próximo da Ponte Rosinha) e diante do Colégio Luiz Sobral, na Travessa Santo Elias, duas imagens que resolvi dividir aqui. Na Salo Brand, no canteiro central, dois pés de carambola carregados, com diversas carambolas maduras, algumas já caídas no piso do canteiro. Na calçada da frente da escola, um pé de acerola, também bastante carregado de madurinhas, sem causar qualquer desejo nas crianças ou adolescentes.
Por certo, nossas crianças ficariam ávidas se vissem um “pé de batatas fritas”, um “pé de milk shake” ou “um pé de cheeseburger”. Pulariam o muro do vizinho em busca de uma garrafa de refrigerante que acabou de madurar.
Não quero aqui fazer apologia à invasão do pomar alheio ou mesmo da destruição do patrimônio público, de jeito algum. Mas, são imagens que mostram algo mais grave que a peraltice juvenil: o desinteresse desses juvenis pelo “doce sabor” das frutas, que vai fazer a diferença na preservação de seu estado de saúde e também na sua memória poética.
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Um comentário:

  1. Gostei muito do seu texto. A realidade atual de nossas crianças e adolescentes é bem essa mesmo, de não dar importância ao que vem da natureza, ao que de fato tem mais sabor nutritivo. Preferem optar por aquilo que para eles é mais "gostoso" sem perceber o mal que faz para a sua saúde e que hoje pode causar um dano em menor proporção, mas no futuro...

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